domingo, 28 de setembro de 2008

O analfabeto político

O analfabetismo e o alfabetismo inocente, arraigados no sistema educacional brasileiro, constituem um dos maiores problemas do País. Considera-se plenamente alfabetizado o cidadão que é capaz de utilizar a linguagem para inteirar-se, expressar-se, conjeturar, documentar, aprender e, desta forma, exercer sua cidadania. E afinal, quem é o analfabeto político? Seja ele letrado ou não, para Bertolt Brecht - poeta, dramaturgo e contista alemão - é o indivíduo que "não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Não sabe que tudo na sua vida depende das decisões políticas. É tão desinformado que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política e desconhece que da sua ignorância política - alienação e omissão - nascem a prostituição, a miséria, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos: o político corrupto, vigarista e demagogo".
Muitos desses analfabetos tentam justificar seu desinteresse pelo tema, afirmando que a política não muda e as opções são sempre as mesmas. Felizmente, isso não procede. Se não ignorassem os acontecimentos históricos, saberiam que, nas últimas décadas, ocorreram muitas transformações na situação político-partidária brasileira. A década de 60, por exemplo, foi marcada pela renúncia de Jânio Quadros (1961), a instituição da ditadura (1964), o AI-5 (1968) e a luta armada. Na década seguinte, conviveu-se com tortura e assassinato de opositores, exílio, a existência de apenas dois partidos políticos: Arena e MDB, início da abertura no governo Geisel (1974-1979) e a anistia aos presos políticos (1979) no governo Figueiredo. Na década de 80, a extinção dos dois partidos existentes e a criação de outros cinco: PMDB, PT, PTB, PDT e PDS, o Movimento Diretas-Já, a hiperinflação de 5000% ao ano, a promulgação da nova Constituição Federal (1988) e a eleição direta para presidente (Fernando Collor de Melo). Na década de 90, deu-se o avanço da democracia, o "impeachment" de Collor, privatizações, a criação do Mercosul (1991). Na década atual, a eleição do primeiro presidente de origem popular, oriundo de um partido de esquerda.
Com todas essas alterações no cenário político, como alguém pode negar o seu avanço? Geralmente, o analfabeto político/eleitor vota por votar, vota no mais bonito, não se preocupa com a vida pregressa do candidato ou vota em quem lhe promete benefícios. Já o analfabeto político/candidato, quando eleito, não cumpre com o papel democrático de seu cargo, faz conluios e satisfaz seus interesses particulares. Na realidade, ele se dedica à politicagem e não à política. E qual é a diferença entre politicagem e política? Politicagem é a política mesquinha, de interesses pessoais e a política é a arte de bem governar os povos. Política deriva do termo "pólis" - palavra grega que significa cidade-estado. Viver com honra era participar das discussões sobre as decisões a serem tomadas na polis.
Há inúmeras acepções e concepções para política, que vêm modificando-se de acordo com a época. Destas destacam-se a de Platão (427-347 a.C.) que foi o teórico da "sociedade justa"; a de Aristóteles (384-322 a.C.) que concebeu a "cidadania seletiva" na qual Sócrates e seus discípulos foram modelos de cidadãos cultivados; a de Nicolau Maquiavel (1469-1527) - fundador do pensamento e da ciência política moderna - que conceituou política como "a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo"; e, por fim, a de Hannah Arendt (1906-1975), pensadora e filósofa alemã: para ela, "o sentido da política é a liberdade" - razão de viver de todo grego. Afirmava ainda que "a política baseia-se no fato da pluralidade dos homens."
A política, portanto, organiza e regula a convivência dos diferentes e não dos iguais. Independentemente do modo de ver de cada filósofo ou pensador, o fato é que o homem é um ser político e todas as suas atividades dependem da política. É responsável por tudo o que faz e pelas conseqüências de sua conduta. Quando deixa de atuar e manifestar-se, deixando que outros escolham por ele, priva-se da oportunidade de influir em tudo o que acontece a sua volta e, moralmente, perde o direito de reclamar.

R. Roldan-Roldan - Escritor

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